Royal Enfield Bullet 500
Motociclo
Uma moto da 2.ª Grande Guerra em tempo de paz.
Pelas estradas do Nepal vai saltitando de buraco em buraco, curvando apenas porque as velocidades são as que o terreno permite, ou recomenda.
As imagens que os espelhos retrovisores devolvem fazem lembrar a última grande bebedeira e tudo sai a dobrar, tamanha a vibração.
O som é gutural, próximo de uma bobber. O rodar do punho solta rugidos mas sem grandes entusiasmos ou repelões.
Tecnologia indiana
Não há controlo de tração, ABS, cruise control. Que raio, nem conta-rotações. Arrancar com o descanso lateral armado é possível pois essa
tecnologia continua a escapar aos engenheiros indianos.
Peso = conforto
O peso do conjunto dá-lhe a estabilidade que o desenho lhe
negou. Resulta que se viaja em conforto mesmo quando a estrada desaparece. É uma moto que se precisar de se desviar de um grande camião e subir pela berma de lama e terra, fá-lo em segurança.
Peça que passa
Estas Bullet lentamente vão passando os desafios que a falta de manutenção para as estradas nepalesas lança. A frente foi alterada e contamos com uma roda de 21’’ que ajuda a passar pedras maiores.
O modelo que conduzimos no Nepal de injecção electrónica (EFI) e travão de disco à frente é o mais avançado que se consegue da fábrica indiana neste subcontinente. Ao primeiro contacto a direcção parece vaga, demasiado. Solavancos mais fortes acompanham-se de um baque forte na mesa de direcção. Rolamentos gripados. Ainda antes de arrancar, salta o selector de mudanças (que funciona com duplo braço: à frente sobe, atrás desce), resolvido abrindo a caixa, com a ajuda do martelo, ferramenta oficial da marca. Mais à frente a vibração e ressaltos trazem o aroma da gasolina, pois o tubo do combustível salta também. Lá atrás a roda bloqueia-se quando o travão de tambor traseiro cede.
Ligamos as luzes e o motor cala-se: um fusível apenas, mas o problema que o causou aind apor lá anda. São muitas as avarias e peças que vão falhar numa viagem com esta moto.
Escolha sensata
Fará sentido escolhê-la para uma viagem no Nepal, India ou mesmo Tibete? Claro que sim. Porque em cada esquina há um mecânico que sabe onde “martelar” e as peças de substituição desencantam-se facilmente. E o carisma também conta: a sensação é de viajar no tempo como se estívessemos aos comandos de algo que o Tintin conduziria na aventura pelo Tibete.