Cinema e Ar Livre
Quando dizemos que tudo é melhor ao ar livre, sabemos que nem sempre é assim.
Será que é esse o caso com o cinema?
Agora que abriu a primeira competição de cinema overland em Portugal, começamos a pensar no papel do cinema quando viajamos em autonomia. Somos muitas coisas nesses momentos — realizadores, espectadores e, por vezes, críticos de cinema.
Actores e outras estrelas
A viagem encontra no cinema muitas parecenças. Ainda em casa de mapa aberto sobre o colo, somos guionistas entusiasmados, escrevendo um argumento para a viagem que há-de vir. Com o guião arrumado no bolso e passado a limpo na véspera, agarramos no volante e, então, tornamo-nos realizadores, dirigindo os actores e dando instruções ao operador de câmara, gritando “Corta” apenas para ouvir o eco devolvido pela montanha. O produtor já nos havia avisado que o orçamento não vai dar para tudo, mas deixamos a fita rolar. As gravações vão avançando, take após take, cena após cena, com birras da estrela do filme à mistura. O guião, esse já anda perdido algures debaixo da mala do drone — ou estará dentro da tenda? Já nem olhamos para ele, na realidade. Fazemos o filme agora de coração, por impulso. E aqui, a viagem começa-se a distanciar do cinema.
Regressamos a casa, protelando o papel que menos gostamos — editor —, soterrados em gigabytes de imagens, vídeos “4K”, gravações de som ambiente, cabos e cartões de dados.
Mas quando começa a tomar forma, vivemos a montanha-russa de emoções, entre o cansaço e o entusiasmo. Move-nos o desejo final de ver o resultado e partilhá-lo. E, quando faltam as energias, fechamos os olhos, imaginando a nossa história projectada no ecrã de cinema.
(excerto)